Foi lançado o
livro “Fazendo Literatura – O Lugar onde vivo”, coletânea de poemas, memórias e
crônicas pelos alunos e alunas da E.B.M Dom Bosco, a partir da Olimpíada de
Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro, de 2010.
O livro teve
como organizadoras Rejane Toaldo Antonello, Claudia Regina Bianchet e Valdirene
Chitolina.
A obra é fruto
da dedicação e colaboração de profissionais e alunos da E.B.M Dom Bosco, que
acreditaram que a produção escrita se materializa no tempo quando passa de mão
em mão e de coração em coração.
Leia o livro
você também e desfrute de um trabalho interessante, criativo e repleto de
emoções.
Boa leitura.
A seguir
exemplos de trabalhos produzidos por alguns alunos.
Poema
Xaxim, amor sem fim
Ritanara Tayane Bianchet
Xaxim cidade
com muita vegetação
cidade que vai estar
para sempre
em meu coração.
Olho os telhados,
todos de amianto.
Casas de todo tipo.
Casas em todo canto.
Ruas asfaltadas.
Casas bem pintadas,
cada uma de uma cor.
Pode ser de alegria
ou amor.
A praça arrumada.
As flores perfumadas.
Tem os jasmins,
dando um toque nos
jardins.
O canto dos pássaros
faz-me acordar.
Para mais um dia a
minha cidade
admirar.
Nossa cultura, nosso
povo,
nosso jeito de viver.
Muitas pessoas vêm
para cá,
fazendo nossa cidade
crescer.
Essa poesia
fala um pouco de
Xaxim.
Cidade que para
sempre
estará dentro de mim.
Memória
Passado colorido infância maravilhosa
Amanda Bruna Sabadin
Pequenos raios
de sol cintilavam radiantes pela pequena janela da casa de minha doce avozinha,
que segurava firme em minhas mãos e olhava profundamente em meus olhos, com seu
olhar brilhante e seu sorriso amável.
Então olhei-a
e perguntei-lhe se poderia me contar um pouco de sua infância. E vovó sempre
com sua gentil voz, respondeu-me que adoraria contar um pouco de sua história.
“Naquele
tempo, minha neta, tudo era muito diferente dos dias atuais, em que geralmente as crianças passam o dia em frente da
televisão ou do computador.
Lembro-me do
vasto céu azul, das belas sombras que as cerejeiras ofereciam e que subíamos para
colher seus frutos deliciosos e suculentos; do doce e suave aroma das flores
que mamãe plantava no jardim. Também recordo que brincávamos com várias
crianças da região em um pequeno riacho que ficava perto de minha casa e que
hoje enfrenta o drama da poluição.
Íamos pra
escola a cavalo e sempre levávamos batata-doce à formosa professora, que nos
preparava para o futuro.
O carro de
luxo da época era puxado a boi velho e todo desajeitado, mas mesmo assim
adorávamos quando papai nos levava à cidade, e nos achávamos o máximo em cima
da antiga carroça.
Mamãe! A
mulher mais gentil e carinhosa que já conheci, com sua roupa suja que vinha da
roça, falava-me que estaria indo preparar a hora mais esperada do dia: o
almoço. Sentíamos o cheiro de longe daquela comida caseira deliciosa, que dava
água na boca e somente ela sabia fazer”
Quanto mais
vovó falava de sua história mais sua face se realçava de tamanho brilho que eu
jamais conseguiria explicar. Éramos sós, eu e vovó, sentadas naquela tarde
ensolarada de verão, uma de frente para a outra. Eu sentia uma emoção e, ao
mesmo tempo, felicidade em pensar em como as pessoas viviam bem apesar dos
poucos recursos que possuíam.
Então vovó
voltou a falar:
“Brincávamos
de casinha em uma grande árvore que ficava na floresta e, como lá tinha um
cipó, ficávamos nos balançando nele quase a tarde toda. Também fazíamos bonecas
de espiga de milho para brincar.
Toda criança
tem medo de alguma coisa, e o que mais me assustava eram os uivos que escutava
durante a noite, dos animais selvagens que habitavam perto de casa.
Hoje, paro
para pensar em como as crianças e adolescentes não dão valor aos seus pais,
acham eles chatos por não os deixarem ir a uma festa ou coisa do gênero. Mas no
meu tempo lembro-me dos abraços apertados e dos beijos que só um pai e uma mãe
saberiam dar por amor a seus filhos. Como eu gostaria que mamãe e papai
estivessem aqui para eu poder aproveita-los ao máximo.”
Vovó me deu um
cordial e intenso abraço e disse:
“Esse é o
abraço que eu gostaria de dar aos meus pais agora!”
Eu fiquei com
uma aflição no meu coração e lágrimas correram por meu rosto como se fossem
gotas de água escorrendo pelo vidro em um dia de chuva.
Baseado na
história de: Tecilda Terezinha Sabadin (vovó).
Crônica
Em memória
Carlos Eduardo Agostini
Xaxim sempre foi um lugar muito
bonito. Há pouco tempo, ficou melhor, pois a cidade passou por algumas
reformas. Eu estava passeando pela Praça Municipal, quando um casal passa por
mim e vai até a estátua, ou melhor, o busto de Frei Bruno, dentro de uma
pequena capela, lá na praça. Eu só os vi de costas.
O homem orava baixinho, mas eu
escutava algumas palavras desconexas, como “saudade” e “cuide-o onde quer que
ele esteja”. Isso me fez pensar em alguém viajando para longe da família.
A mulher chorava e soluçava
audivelmente. A única coisa imóvel era um cobertor nos braços da mulher,
manchado, onde eu presumi que houvesse roupas velhas, talvez pegas em alguma
campanha de doação?
O homem inspirava um ar de
derrota, ou talvez de pesar? Usava uma calça jeans velha e desbotada, com os
joelhos remendados. Seus tênis de couro, que talvez tivesse pertencido a duas
ou três gerações, estavam ralos finos e igualmente desbotados. A camiseta era
xadrez e marrom e, sobreposto por cima dela, um blusão preto remendado, mais
até que a calça. Seus cabelos eram curtos e estavam rareando.
Já a mulher, apesar de estar
evidentemente chorando, tinha um ar de aristocracia rural, usando um longo
vestido preto desbotado, remendado também, com as bordas e as mangas desfiadas.
Calçava um chinelo de dedos verde e tinha um véu negro na cabeça, como se
estivesse de luto, que me fez pensar delirantemente em um casal de noivos. Era,
evidentemente um casal do interior.
O homem disse: - “Vamos”. E eles
deslocaram-se até o pequeno chafariz da praça e lá ficaram longos minutos
contemplando a água sob as luzes coloridas no fundo; seriam turistas? O homem
disse: - “Agora”. E a mulher estremeceu, como se estivesse sendo torturada
chorando, o corpo sacudido pelos soluços.
Enquanto lágrimas copiosas caíam
no seu colo, ela levantou os cobertores e de lá tirou um bebê, completamente
vestido, camisa verde abotoada calça e cinto, sapatos lustrosos nos pés. Porém
havia algo estranho: quando a mulher o pegou pelas axilas, ele não se moveu.
Levantou-o e depositou-o no chafariz. Como tantas outras crianças tinham o
desejo ardente de ir para brincar, mas
os pais não deixavam. Eu ia adverti-los, a criança poderia se afogar, então eu
vi.
Os olhos vidrados do cadáver
pareceram me fixar quando a mãe tirou-o de lá, murmurando ser o último desejo,
o corpo sacudido pelo pesar. Então, a verdade abrasadora do fato me atingiu,
como um punho de aço: o casal tinha ido lá para fazer o último desejo da
criança (provavelmente morta em um acidente depois de saírem da praça), brincar
no chafariz. Enquanto se retiravam de lá, me deixaram pasmo diante d acena.
In memoriam de todas as crianças
anônimas que morreram em acidentes.