quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Fazendo Literatura O Lugar onde vivo



Foi lançado o livro “Fazendo Literatura – O Lugar onde vivo”, coletânea de poemas, memórias e crônicas pelos alunos e alunas da E.B.M Dom Bosco, a partir da Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o Futuro, de 2010.
O livro teve como organizadoras Rejane Toaldo Antonello, Claudia Regina Bianchet e Valdirene Chitolina.
A obra é fruto da dedicação e colaboração de profissionais e alunos da E.B.M Dom Bosco, que acreditaram que a produção escrita se materializa no tempo quando passa de mão em mão e de coração em coração.
Leia o livro você também e desfrute de um trabalho interessante, criativo e repleto de emoções.
Boa leitura.
A seguir exemplos de trabalhos produzidos por alguns alunos.


Poema
Xaxim, amor sem fim
Ritanara Tayane Bianchet

Xaxim cidade
com muita vegetação
cidade que vai estar para sempre
em meu coração.

Olho os telhados,
todos de amianto.
Casas de todo tipo.
Casas em todo canto.

Ruas asfaltadas.
Casas bem pintadas,
cada uma de uma cor.
Pode ser de alegria ou amor.

A praça arrumada.
As flores perfumadas.
Tem os jasmins,
dando um toque nos jardins.

O canto dos pássaros
faz-me acordar.
Para mais um dia a minha cidade
admirar.
Nossa cultura, nosso povo,
nosso jeito de viver.
Muitas pessoas vêm para cá,
fazendo nossa cidade crescer.

Essa poesia
fala um pouco de Xaxim.
Cidade que para sempre
estará dentro de mim.


Memória

Passado colorido infância maravilhosa
Amanda Bruna Sabadin

Pequenos raios de sol cintilavam radiantes pela pequena janela da casa de minha doce avozinha, que segurava firme em minhas mãos e olhava profundamente em meus olhos, com seu olhar brilhante e seu sorriso amável.
Então olhei-a e perguntei-lhe se poderia me contar um pouco de sua infância. E vovó sempre com sua gentil voz, respondeu-me que adoraria contar um pouco de sua história.
“Naquele tempo, minha neta, tudo era muito diferente dos dias atuais, em que geralmente  as crianças passam o dia em frente da televisão ou do computador.
Lembro-me do vasto céu azul, das belas sombras que as cerejeiras ofereciam e que subíamos para colher seus frutos deliciosos e suculentos; do doce e suave aroma das flores que mamãe plantava no jardim. Também recordo que brincávamos com várias crianças da região em um pequeno riacho que ficava perto de minha casa e que hoje enfrenta o drama da poluição.
Íamos pra escola a cavalo e sempre levávamos batata-doce à formosa professora, que nos preparava para o futuro.
O carro de luxo da época era puxado a boi velho e todo desajeitado, mas mesmo assim adorávamos quando papai nos levava à cidade, e nos achávamos o máximo em cima da antiga carroça.
Mamãe! A mulher mais gentil e carinhosa que já conheci, com sua roupa suja que vinha da roça, falava-me que estaria indo preparar a hora mais esperada do dia: o almoço. Sentíamos o cheiro de longe daquela comida caseira deliciosa, que dava água na boca e somente ela sabia fazer”
Quanto mais vovó falava de sua história mais sua face se realçava de tamanho brilho que eu jamais conseguiria explicar. Éramos sós, eu e vovó, sentadas naquela tarde ensolarada de verão, uma de frente para a outra. Eu sentia uma emoção e, ao mesmo tempo, felicidade em pensar em como as pessoas viviam bem apesar dos poucos recursos que possuíam.
Então vovó voltou a falar:
“Brincávamos de casinha em uma grande árvore que ficava na floresta e, como lá tinha um cipó, ficávamos nos balançando nele quase a tarde toda. Também fazíamos bonecas de espiga de milho para brincar.
Toda criança tem medo de alguma coisa, e o que mais me assustava eram os uivos que escutava durante a noite, dos animais selvagens que habitavam perto de casa.
Hoje, paro para pensar em como as crianças e adolescentes não dão valor aos seus pais, acham eles chatos por não os deixarem ir a uma festa ou coisa do gênero. Mas no meu tempo lembro-me dos abraços apertados e dos beijos que só um pai e uma mãe saberiam dar por amor a seus filhos. Como eu gostaria que mamãe e papai estivessem aqui para eu poder aproveita-los ao máximo.”
Vovó me deu um cordial e intenso abraço e disse:
“Esse é o abraço que eu gostaria de dar aos meus pais agora!”
Eu fiquei com uma aflição no meu coração e lágrimas correram por meu rosto como se fossem gotas de água escorrendo pelo vidro em um dia de chuva.

Baseado na história de: Tecilda Terezinha Sabadin (vovó).



Crônica

Em memória
Carlos Eduardo Agostini

Xaxim sempre foi um lugar muito bonito. Há pouco tempo, ficou melhor, pois a cidade passou por algumas reformas. Eu estava passeando pela Praça Municipal, quando um casal passa por mim e vai até a estátua, ou melhor, o busto de Frei Bruno, dentro de uma pequena capela, lá na praça. Eu só os vi de costas.
O homem orava baixinho, mas eu escutava algumas palavras desconexas, como “saudade” e “cuide-o onde quer que ele esteja”. Isso me fez pensar em alguém viajando para longe da família.
A mulher chorava e soluçava audivelmente. A única coisa imóvel era um cobertor nos braços da mulher, manchado, onde eu presumi que houvesse roupas velhas, talvez pegas em alguma campanha de doação?
O homem inspirava um ar de derrota, ou talvez de pesar? Usava uma calça jeans velha e desbotada, com os joelhos remendados. Seus tênis de couro, que talvez tivesse pertencido a duas ou três gerações, estavam ralos finos e igualmente desbotados. A camiseta era xadrez e marrom e, sobreposto por cima dela, um blusão preto remendado, mais até que a calça. Seus cabelos eram curtos e estavam rareando.
Já a mulher, apesar de estar evidentemente chorando, tinha um ar de aristocracia rural, usando um longo vestido preto desbotado, remendado também, com as bordas e as mangas desfiadas. Calçava um chinelo de dedos verde e tinha um véu negro na cabeça, como se estivesse de luto, que me fez pensar delirantemente em um casal de noivos. Era, evidentemente um casal do interior.
O homem disse: - “Vamos”. E eles deslocaram-se até o pequeno chafariz da praça e lá ficaram longos minutos contemplando a água sob as luzes coloridas no fundo; seriam turistas? O homem disse: - “Agora”. E a mulher estremeceu, como se estivesse sendo torturada chorando, o corpo sacudido pelos soluços.
Enquanto lágrimas copiosas caíam no seu colo, ela levantou os cobertores e de lá tirou um bebê, completamente vestido, camisa verde abotoada calça e cinto, sapatos lustrosos nos pés. Porém havia algo estranho: quando a mulher o pegou pelas axilas, ele não se moveu. Levantou-o e depositou-o no chafariz. Como tantas outras crianças tinham o desejo  ardente de ir para brincar, mas os pais não deixavam. Eu ia adverti-los, a criança poderia se afogar, então eu vi.
Os olhos vidrados do cadáver pareceram me fixar quando a mãe tirou-o de lá, murmurando ser o último desejo, o corpo sacudido pelo pesar. Então, a verdade abrasadora do fato me atingiu, como um punho de aço: o casal tinha ido lá para fazer o último desejo da criança (provavelmente morta em um acidente depois de saírem da praça), brincar no chafariz. Enquanto se retiravam de lá, me deixaram pasmo diante d acena.
In memoriam de todas as crianças anônimas que morreram em acidentes. 

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